quinta-feira, 16 de abril de 2009

A necessidade de dizer vs. A ausência do que dizer

Hoje de manhã me senti meio invisível. Esta noite estou meio mudo. Escrever tem sido para mim um exercício de exposição. O modo que encontrei para dar-me ao mundo, ou pra ser mais preciso, para dar-me a mim mesmo. Entretanto, esta noite estou meio mudo... Não porque não tenho nada a expor, mas porque não sei o que dizer; como dizer. Quero falar, mas não sei o que...

"Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi". Mário de Andrade.

Houve um tempo em que eu costumava seguir o exemplo do Mário de Andrade. Atualmente porém, minha intenção é outra: não quero corrigir, tampouco justificar! Aspiro escrever pelo que escrevo, sem malícia. Devo dar à luz o verbo cujo útero sou eu.

Proclamo que a voz sufocada ressoe livremente para que não mais morra na garganta. Quero gritar, quero gritar!

"Ou estarei apenas adiando o começar a falar? porque não digo nada e apenas ganho tempo? Por medo. É preciso coragem para me aventurar numa tentativa de concretização do que sinto. É como se eu tivesse uma moeda e não soubesse em que país ela vale.
Será preciso coragem para fazer o que vou fazer: dizer. E me arriscar à enorme surpresa que sentirei com a pobreza da coisa dita. Mal a direi, e terei que acrescentar: não é isso, não é isso! Mas é preciso também não ter medo do ridículo, eu sempre preferi o menos ao mais por medo também do ridículo: é que há também o dilaceramento do pudor. Adio a hora de me falar. Por medo?
E porque não tenho uma palavra a dizer.
Não tenho uma palavra a dizer. Por que não me calo, então? Mas se eu não forçar a palavra a mudez me engolfará para sempre em ondas. A palavra e a forma serão a tábua onde boiarei sobre vagalhões de mudez".

"Enquanto escrever e falar vou ter que fingir que alguém está segurando a minha mão.
Oh, pelo menos no começo, só no começo. Logo que puder dispensá-la, irei sozinha. Por enquanto preciso segurar esta tua mão - mesmo que não consiga inventar teu rosto e teus olhos e tua boca.
(...)
Por enquanto eu te prendo, e tua vida desconhecida e quente está sendo a minha única íntima organização, eu que sem a tua mão me sentiria agora solta no tamanho enorme que descobri".

Clarice Lispector em A paixão segundo G. H.

3 comentários:

  1. E eu grito junto contigo!
    Gostei de ler o que escreveu. Gosto das escolhas literárias tbm.

    =**

    Cris

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  2. Grite, esperneie, escreva, e sinta. Permitas que o inconsciente se manifeste e seje salvo.

    Rafael

    ps. Gostei muito do seu blog

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  3. Eu também não sei o que dizer... Por mais que me toque, por mais que grite em mim... Será que há mesmo o que dizer? Por enquato, sinto ainda os efeitos das palavras, e isso (por hora, e somente por hora), me basta!

    ADORO o modo como vc se expressa amore!
    Beijos!

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